Pesquisa afirma que estudantes brasileiros devem demorar mais de 260 anos para atingir a qualidade de leitura de alunos de países desenvolvidos
Mercado livreiro comemora melhora nas vendas no último ano, mas ainda falta um bocado para que Brasil seja considerado um país de leitores. Foto: Peu Ricardo/DP


O brasileiro lê pouco e, no geral, lê mal. Se o mercado livreiro pôde comemorar uma melhora nas vendas no último ano, ainda falta um bocado para que Brasil seja considerado, de fato, um país de leitores. Hoje, Dia Mundial do Livro, se é uma data de celebração, traz também uma válida reflexão sobre o papel dele na formação social e hábitos de leitura.

Segundo levantamento divulgado no início deste ano pelo Banco Mundial, os estudantes brasileiros devem demorar mais de 260 anos para atingir a qualidade de leitura dos alunos de países desenvolvidos. A estimativa, feita a partir dos dados do Programa de Avaliação de Alunos (Pisa), sinalizam duradoura crise da aprendizagem caso o país mantenha os atuais índices de educação.

A mais recente edição (2016) da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-Livro, com o apoio da Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares e Câmara Brasileira do Livro e Sindicato Nacional dos Editores de Livros, aponta também um cenário pouco promissor, apesar de certos avanços. Estima-se que 104,7 milhões de brasileiros (56% da população acima dos cinco anos de idade) se enquadram como leitores regulares (aqueles que leem, pelo menos, partes de um livro a cada três meses). Em 2011, a média era de 50%.

Entre duas edições, outro progresso notado foi o avanço no índice de leitura per capita, que passou de quatro títulos por ano para 4,96. Quando desconsiderados os livros didáticos, no entanto, o número cai para 2,9 livros/ano. Em comparação, essa média é de 7 na França, 5,1 nos Estados Unidos e 4,9 na Inglaterra.

Outro indicador que registrou crescimento foi o das vendas das livrarias em 2017. Após quatro anos seguidos de queda, o setor registrou vendas de 42,3 milhões de exemplares, contra 40,5 em 2016, aumento de 4,55%. O incremento representou expansão no faturamento, que passou de R$ 1,6 bilhão para R$ 1,7 bilhão no período.

Os três livros mais vendidos do período foram Felipe Neto – A trajetória de um dos maiores youtubers do Brasil; O homem mais inteligente da história, de Augusto Cury, e Origem, de Dan Brown. Juntas, as três obras representaram 1,1% do total comercializado pelas livrarias no ano passado.

E-BOOKS 
Encarados como um dos meios de fortalecer as editoras, os e-books seguem representando uma pequena parcela das vendas no Brasil. O primeiro estudo nacional dedicado ao setor, o Censo do Livro digital, divulgada no ano passado, aponta que o segmento representa apenas 1,09% do faturamento. E os livros virtuais ainda não fazem parte da realidade de muitas das editoras: das 794 das empresas pesquisadas, só 294 têm conteúdo digital. Ou seja, 63% do total de companhias livreiras ainda não atua no nicho.

Segundo a pesquisa, até 2016 foram publicados, digitalmente, cerca de 50 mil títulos no país e a venda total de e-books no Brasil alcançou, naquele ano, 2.751.630 unidades.

RELIGIÃO
A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil traz a Bíblia como obra mais citada pelos entrevistados de todas as idades acima dos 18 anos: é o título mais referenciado na pergunta “qual o último livro que você leu ou está lendo?”. 42% dos participantes da pesquisa afirmaram ler a Bíblia, enquanto outros livros religiosos figuram no segundo lugar entre os gêneros mais populares, com 22% da preferência.

Dada a representatividade da Bíblia e obras religiosas entre os dados do levantamento, os segmentos representam uma expressiva parcela no aumento do índice de leitura de livros não acadêmicos, que evoluiu de 1,8 títulos lidos por ano (em 2000) para 2,9 (2015). Tal resultado é creditado ao avanço das religiões pentecostais e evangélicas no Brasil.

Os mais vendidos
Felipe Neto – A trajetória de um dos maiores youtubers do Brasil 
Coquetel (64 páginas)
R$ 19,90

O homem mais inteligente da história 
de Augusto Cury
Sextante  (272 páginas)
R$ 34,90

Origem
de Dan Brown
Arqueiro (432 páginas)
R$ 49,90

O poder do livro conquista
"As livrarias permanecem movimentadas, suportes como o Kindle já estão consolidados e mesmo fenômenos como a Estante Virtual atestam que a nossa relação com os livros ainda é bem forte”, avalia a escritora pernambucana Patricia Tenório. Otimista, a autora enxerga avanços na formação de leitores e novas possibilidades de leituras proporcionadas pela internet e redes sociais.

“Existem formas diferentes de leitura. O (consumo do) livro tradicional é incentivado por outros meios, como um miniconto no Twitter. Isso estimula a busca por textos maiores”, opina. A escritora considera que o mais importante é a iniciação. “Não importa a maneira que comece, seja uma história em quadrinhos ou romance policial. O importante é começar e, depois, ser conquistado”, destaca.  À frente de um grupo de estudos com encontros mensais na Livraria Cultura do Paço Alfândega, Patricia Tenório ressalta que há na escrita, assim como na leitura, processos de descobertas. “Na escrita ficcional e poética você também descobre nuances da personalidade, consegue se entender mais, elaborar ideias melhores. É um processo de autoconhecimento”, diz.

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