Astro e seu irmão, suspeitos do uso de documentos falsos, vão à Promotoria contra o Crime Organizado, e promotor afirma que dupla recebeu passaportes ao chegar ao Paraguai
Assis e Ronaldinho na sede da Promotoria contra o Crime Organizado, em Assunção — Foto: Reprodução
Assis e Ronaldinho na sede da Promotoria contra o Crime Organizado, em Assunção — Foto: Reprodução

Suspeito do uso de documentos falsos ao chegar ao Paraguai, na última quarta-feira, Ronaldinho Gaúcho e seu irmão, Assis, estiveram na sede da Promotoria contra o Crime Organizado, em Assunção, para prestar depoimento sobre o caso na manhã desta quinta. E o promotor Federico Delfino foi a público para dar novas informações, indicando que os números dos passaportes usados pertencem a outras pessoas: seriam duas senhoras moradoras de Assunção.

De acordo com o promotor, que concedeu entrevista coletiva na manhã desta quinta, os documentos foram retirados no mês de janeiro e entregues a Ronaldinho e Assis assim que os dois chegaram ao Paraguai. Isto entraria em contradição com a primeira versão dada por R10, que, segundo o "ABC Color", afirmou à polícia que recebeu os passaportes ainda no Brasil.

- Foi checada a documentação, que chamou a atenção. Para ter a nacionalidade paraguaia, ser paraguaio naturalizado, tem que estar vivendo há algum tempo no país e ter um trabalho, essas coisas. Ronaldinho é uma pessoa de fama mundial... Estou igual a vocês. Já verificamos que os números de passaporte pertencem a outras pessoas. São passaportes originais, mas com dados apócrifos. Esses passaportes foram tirados em janeiro deste ano - disse Federico Delfino, que apontou que "verá que medidas tomar" ao longo do dia.

Além dos passaportes, Assis e Ronaldinho apresentaram carteiras de identidade do Paraguai, que teriam sido emitidas em dezembro do ano passado. A versão da promotoria é que os dois saíram do Brasil usando documentos nacionais, mas, ao chegarem em Assunção, teriam recebido os documentos paraguaios em uma sala VIP do Aeroporto Silvio Pettirossi.

Quem teria feito a entrega seria Wilmondes Sousa Lira, apontado como principal suspeito da fraude. O "ABC Color" afirma que Wilmondes, um empresário de 45 anos, foi detido enquanto jantava com Ronaldinho e Assis no mesmo hotel em que os dois estavam hospedados.
Homem foi preso no hotel em que Ronaldinho estava hospedado; empresário brasileiro é acusado pela fraude em documentos — Foto: AFP
Homem foi preso no hotel em que Ronaldinho estava hospedado; empresário brasileiro é acusado pela fraude em documentos — Foto: AFP

- Eles não fizeram nenhum processo para obter a nacionalidade paraguaia. Disse que foi um presente das pessoas que o trouxeram ao país. Segundo entendemos, fizeram a imigração paraguaia com este documento, mas saíram do Brasil com documentação brasileira - completou Federico Delfino.
MP divulgou fotos das carteiras de identidade usadas por Ronaldinho e Assis — Foto: Reprodução/Twitter
MP divulgou fotos das carteiras de identidade usadas por Ronaldinho e Assis — Foto: Reprodução/Twitter

Operação de busca em hotel
Ronaldinho desembarcou com Assis na manhã da última quarta-feira em Assunção, e seus passaportes chamaram a atenção das autoridades locais. Os dois passaram a ser suspeitos do uso de documentos falsos, mas apenas horas depois, à noite, membros do Ministério do Interior e do MP locais foram ao hotel onde os dois estão hospedados para uma operação de busca.

Segundo o MP, passaportes, carteiras de identidade e telefones de R10 e Assis foram apreendidos na operação no Yacht y Golf Club. Segundo o Ministro do Interior Euclides Acevedo, os dois ficariam sob custódia no hotel até a manhã desta quinta, quando foram prestar depoimento - entretanto, não estariam detidos. Após a audiência, as autoridades paraguaias decidirão se farão uma denúncia contra os dois ou não.
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Caso Ronaldinho: Fue allanada la suite donde está hospedado Ronaldinho. Se encontraron, documentos varios, C.I. y pasaportes paraguayos con los nombres de Ronaldinho y su hermano. Investigación en curso.

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Autoridades trocam acusações
O comandante da Polícia Nacional do Paraguai, Sergio Resquín, afirmou que uma empresa chamada "Grupo Beck" solicitou escolta para a chegada de Ronaldinho ao Paraguai, pedindo o apoio de duas motos e uma viatura durante sua permanência no país. Por conta da operação, as autoridades teriam demorado a notar que havia um problema com a documentação do astro, segundo Resquín.

- Quando nos comunicaram que essa pessoa (Ronaldinho) entrou com passaporte paraguaio, a primeira coisa que foi feita foi chamar o setor de Identificações. Buscamos se esse passaporte foi emitido, e nos disseram que não emitiram esse número lá. Mas pelo número do documento, se comprovou que esse passaporte foi emitido pelo setor de Identificações. A investigação vai continuar - disse o comandante da Polícia Nacional.
O diretor do setor de Imigração, Alexis Penayo, alegou que informou o Ministério do Interior sobre os documentos falsos apresentados por Ronaldinho e Assis na chegada ao Paraguai. Entretanto, nada foi feito pela polícia até a noite, quando foi realizada a operação no hotel onde os dois brasileiros estão hospedados.

- Eu tenho a prova de que alertei ao ministro. Informei por mensagem que esses dados não apareciam no sistema, e que em cima aparecia como naturalizado. Apenas foi visualizada. Tenho as provas que avisei ao Ministério do Interior e ao diretor de Identificações. Enviei as fotos dos passaportes e avisei "não aparece no sistema" - disse Penayo.

O diretor de Imigração ainda afirmou que considerou estranho que R10 tenha sido escoltado pela polícia paraguaia quando entrou no país com documentos suspeitos.

- Com que base escoltaram? Por que, se tinham estes dados, não denunciaram e detiveram Ronaldo? Se registrou uma ata ao meio-dia no aeroporto, tenho a foto. Tenho todas as provas - completou a autoridade.

Em contato com o GloboEsporte.com na noite de quarta-feira, o advogado de Ronaldinho e Assis, Sérgio Queiroz fez um único comentário.
- Certamente trata-se de algum equívoco que será esclarecido - declarou.

Ronaldinho Gaúcho chegou ao Paraguai como astro, com direito a recepção no Aeroporto Internacional Silvio Pettirossi. Ele foi participar de evento para arrecadação beneficente para crianças e lançar a biografia do jogador chamada "Gênio na vida". Passou a tarde no luxuoso hotel, que recebeu a cerimônia realizada pela empresária e política Dalia Lopez.

Segundo as autoridades paraguaias, Ronaldinho afirmou na noite de quarta-feira que foi ao Paraguai convidado por um compatriota para inaugurar um cassino chamado "Il Palazzo". Depois, teria sido contactado por Wilmondes Sousa Lira, que aproveitaria a presença no país para promover atividades da Fundação Fraternidade Angelical, que divulgou fotos do ex-jogador de futebol no hotel durante o dia. A fundação também estaria diretamente ligada a Dalia López.

Processo para recuperar passaporte no Brasil
Ronaldinho e Assis recentemente tiveram os passaportes retidos no Brasil e estavam proibidos de deixar o país ou renovar os documentos. O motivo era um processo por dano ambiental na Justiça do Rio Grande do Sul.

No entanto, em setembro do ano passado, ambos chegaram a um acordo e receberam os documentos de volta. O valor da indenização devida pela família Assis Moreira passava de R$ 8,5 milhões.

Embora tenham apresentado passaportes e documentos de identidade paraguaios na entrada em Assunção, Ronaldinho e seu irmão precisavam apenas de uma carteira de identidade brasileira para ingressar no Paraguai. Um acordo diplomático na região do Mercosul permite a viagem entre os países da região apenas com tal documento.
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